segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Penal III Crimes em Brasilia

VIOLÊNCIAOs pontos do medoEstudo da Polícia Civil mostra as áreas mais vulneráveis à ação dos bandidos no Plano Piloto. Crime mais comum é o roubo a pedestres. Ocorrências cresceram 15,4% na parte central de Brasília em 2006

O medo tomou conta do Plano Piloto. Motoristas, pedestres, donas-de-casa, pouca gente se sente segura na região central de Brasília. Levantamento da Polícia Civil aponta que os crimes contra o patrimônio e de ameaça à vida cresceram nos últimos dois anos nas asas Sul e Norte. Foram 3.450 casos de delitos, como homicídio, latrocínio, estupro, roubos, furtos e seqüestros relâmpagos registrados no ano passado. O levantamento realizado pelas duas delegacias da região — 1ª DP (Asa Sul) e 2ª DP (Asa Norte) — detalha inclusive os locais e os horários prediletos dos bandidos. Na Asa Norte, atacam principalmente na Rodoviária, Torre de TV, Vila Planalto e no estádio Mané Garrincha. Os locais concentram 27% do total de ocorrências registradas na 2ª DP. Os criminosos preferem cometer crimes como assaltos a pedestres, veículos, postos de gasolina e comércios a partir do fim da tarde de sexta-feira (veja quadro ao lado). “Vamos começar ações conjuntas para melhorar a segurança na área ao redor do Conjunto Nacional. É uma das que mais nos preocupa, pois os bandidos se aproveitam da grande quantidade de pessoas”, disse o delegado-chefe da 2ªDP, Antônio José Romeiro. O aumento de ocorrências nas asas Sul e Norte é 15,4% em relação a 2005, quando as duas delegacias do Plano Piloto tiveram 2.989 ocorrências. Já na Asa Sul a insegurança é mais freqüente no Parque da Cidade, Conic, Setor Comercial Sul, Setor Hospitalar Sul e nas proximidades do Touring. Quem comete crimes no bairro ataca com mais freqüência na quarta-feira, a partir do fim da tarde. “A maioria dos crimes daqui é sem ameaça. Mas também há roubos, que ocorrem no Conic e tarde da noite. Ainda assim, boa parte deles é praticada por adolescentes. Eles buscam objetos para comprar drogas. Por isso, trabalhamos em conjunto com a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA)”, explicou a delegada-chefe da 1ª DP, Suzana Machado. Dos 18 assassinatos registrados na Asa Sul, oito ocorreram na parte central da cidade — quatro no prédio do Touring e quatro no Setor de Diversões Sul. Alarme Os números altos, no entanto, geram descrença da população em relação ao trabalho policial. Assim, muitos cidadãos recorrem a outras formas de proteção. O bombeiro Alexandre Andrade, 33 anos, mora na 707 Sul. A quadra está entre os 12 locais mais freqüentes para os crimes praticados com violência ou grave ameaça na Asa Sul. Além de um sistema de alarme 24 horas instalado na casa onde vive com a família, Andrade conta com dois cães da raça pit bull treinados para a guarda. Boquinha e Princesa obedecem a vários comandos de voz, inclusive o de ataque. A precaução do bombeiro encontra explicação na rotina violenta da quadra residencial . A casa de uma das vizinhas sofreu duas invasões. A da esquerda passou pelo trauma de um seqüestro relâmpago. E o carro da mulher dele acabou três vezes arrombado na frente da residência. “Aqui é passagem de traficante por causa das escolas públicas. Também há pensões demais, o que atrai muita gente desconhecida. O jeito é se defender como dá”, afirmou Andrade, que mora na 707 Sul há cinco anos. Foram registrados na quadra 22 crimes no ano passado e cinco em 2005.
O comandante do 1º BPM (Asa Sul), tenente-coronel Ricardo Martins, disse que o relatório divulgado pela Polícia Civil servirá de referência para a Polícia Militar. Segundo ele, os detalhes revelados pelas ocorrências registradas nas delegacias determinarão o policiamento nas quadras residenciais e comerciais do bairro. “A PM já faz o trabalho preventivo, mas agora temos em mãos os pontos críticos. Isso facilita o trabalho ostensivo, mesmo que muitas pessoas deixem de registrar os pequenos furtos e roubos”, avaliou. Para o tenente-coronel Martins, o número de homens do batalhão não é o ideal. Mas suficiente para combater os crimes mais comuns da região, que, segundo ele, são os furtos de veículos e no interior deles. Na Asa Norte, a PM estuda programa para trabalhar em parceria com porteiros e vigias. Eles receberão informações sobre como proceder em caso de assaltos. Postos A violência nos primeiros meses de 2007 trouxe o medo para o local de trabalho do gerente de posto de gasolina da 303 Sul. Odilon Lopes, 32 anos, teve prejuízos em três assaltos em janeiro e outro em abril. Ouviu histórias de frentistas apavorados com o ataque de bandidos armados com revólver. E virou testemunha da escalada da criminalidade no Distrito Federal. Relatório de análise criminal divulgado pela Polícia Civil do DF aponta que os crimes contra o patrimônio, por exemplo, deram saltos em várias regiões administrativas na comparação entre os quatro primeiros meses deste ano e 2006. Roubos a postos de combustíveis, como os sofridos pelo gerente Odilon, cresceram em 9,8% no DF. Houve 193 casos entre 1º de janeiro e 30 de abril do ano passado. E 212 no mesmo período de 2007. “O jeito é mudar a rotina. Os frentistas mantêm o mínimo de dinheiro no bolso durante a madrugada e devem colocar o que arrecadam no cofre. Também não devem reagir”, afirmou.


A PM já faz o trabalho preventivo, mas agora temos em mãos os pontos críticos
Ricardo Martins, comandante do batalhão da PM da Asa Sul

Comerciantes preocupados com roubosLevantamento da Polícia Civil aponta que, em média, uma loja é assaltada na Asa Norte a cada 87 horas. Foram 100 casos em 2006. Delegacia vai criar uma linha direta com os empresários, como existe na Asa Sul
Elisa Tecles e Guilherme Goulart Da equipe do Correio Um dos crimes que mais assustam no Plano Piloto é o assalto em áreas comerciais. Lojas, bancos e supermercados estiveram entre os principais alvos dos bandidos durante todo o ano passado. Na Asa Norte, os roubos a comércio cresceram 40% — foram 100 casos em 2006 contra 71 em 2005. A média é de um caso a cada 87 horas na região, de acordo com o Relatório de Análise Criminal, da Polícia Civil. O empresário Rafael Ribeiro, 27, viveu momentos de terror há duas semanas. Três homens armados invadiram a padaria da família do rapaz, que fica na 411 Norte. Além de levar todo o dinheiro do caixa, os bandidos tomaram celulares e carteiras dos clientes. “A loja estava aberta, ainda eram 19h. Eles mandaram todo mundo deitar no chão e viraram a gaveta do balcão para levar o dinheiro”, lembra Rafael. A padaria do rapaz fica em uma das quadras apontadas como as mais perigosas no relatório de análise criminal, disponível desde sexta-feira na página da Polícia Civil na internet (www.pcdf.df.gov.br). Com a padaria funcionando há 10 anos na quadra, Rafael não sofria um assalto como esse havia sete anos. “Aqui era um lugar tranqüilo, não acreditei quando isso aconteceu. Só não tivemos um prejuízo maior porque nunca deixamos mais de R$ 50 no caixa”, diz o empresário. Para proteger a loja e os clientes, existe um sistema de câmeras, mas que não filmou os assaltantes porque eles ficaram fora do raio de alcance das imagens. Rafael registrou a ocorrência na 2ª DP (Asa Norte), mas os autores do assalto ainda não foram localizados.
O roubo na padaria de Rafael ocorreu às 19h, horário em que 28,5% dos crimes registrados na Asa Norte ocorrem. O período da tarde, entre as 12h e as 18h, concentra a maior quantidade de delitos, cerca de 32%. A sexta-feira é o dia da semana mais comum para ataques a comércio, pedestres e veículos. Segundo o delegado-chefe da 2ªDP, Antônio Romeiro, as quadras mais vulneráveis da Asa Norte contarão com ações intensas para inibir os bandidos. “Vamos identificar onde estão as maiores demandas e atender a essas necessidades”, explica. O delegado quer levar para a Asa Norte uma estratégia já utilizada pela 1ª DP (Asa Sul) para diminuir os assaltos em quadras comerciais. Por meio de um sistema de rádio, os lojistas podem acionar a polícia em casos de emergência. “É importante que eles possam se comunicar com a polícia com rapidez, assim nós compareceremos prontamente ao local”, afirma. Movimento intenso Com quatro lojas roubadas em 2006, a comercial da 307 Norte também é muito visada pelos assaltantes. A padaria de Erivalda Gomes, 40, sofreu com a ação dos criminosos no fim do ano passado. A loja foi assaltada por um homem armado, que invadiu o local no fim do dia, quando não havia mais clientes. Para a empresária, a quadra é alvo constante dos bandidos por conta do movimento intenso. “Aqui tem muito comércio e gente passando o tempo todo, isso chama a atenção dos bandidos”, avalia. Depois do assalto, a empresária fez mudanças na padaria para evitar novos transtornos. A disposição das prateleiras e do caixa foi trocada para dar maior visibilidade a quem entra e sai do estabelecimento. Apesar disso, Erivalda acredita que a situação da quadra não deve mudar enquanto houver aglomeração de moradores de rua ao redor da comercial. “Eles entram aqui, pegam alguma coisa e saem correndo. Isso assusta os clientes e a gente também”, comenta.
Na Asa Sul, o roubo a comércio diminuiu entre 2005 e 2006. O número de casos caiu de 65 para 59, pouco mais da metade do registrado na Asa Norte em todo o ano passado. De acordo com o relatório da polícia, o lugar mais propícios a roubos e furtos em comércio é o Setor de Diversões Sul. Na região, a maioria dos delitos ocorre às sextas-feiras, entre as 12h e as 18h.
Correio, 15.05.2007 - Cidades

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