quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Crime Passional no Aeroporto

Jornal de Brasília, 27.03.2000
Crime no aeroporto foi passional
Um mês após o assassinato, agente da PF confessa caso com o rapaz
Algemado, barbudo e usando um paletó cinza, o agente administrativo da Polícia Federal, Eder Douglas Santana Macedo, de 37 anos, prestou depoimento ontem à tarde, ao juiz substituto do Tribunal do Juri, Leonardo Borges de Figueiredo. Eder confessou ter matado a tiros o empresário Carlos Alberto Alves, 53, e o filho Carlos Daniel Chacur, 25. Ele negou ter cometido o crime por ciúme, mas afirmou que tinha um caso com Daniel.
Aparentando nervosismo e tomando muita água, Eder Douglas foi interrogado por mais de quatro horas. Durante o depoimento, fez questão de citar detalhes do romance que mantinha com Carlos Daniel, namorado de sua sobrinha, Flávia Macedo, de 25 anos. "Fomos três vezes ao motel. Quando fui para São Paulo e fiquei na casa dele, ficamos no mesmo quarto. Eu colocava o colchão no chão e, a noite, passava para a cama dele", confessou o agente federal.
Eder Douglas e Carlos Daniel se conheceram em dezembro do 98. O estudante era enteado de Rose Meire Macedo, irmã de Eder e filho de Carlos Alberto, marido de Rose. No primeiro dia em que se viram, segundo o agente administrativo, surgiu "um clima" entre eles. Logo em seguida, iniciaram um conturbado relacionamento. Daniel tinha namorada e era muito assediado pelas mulheres, o que causava ciúmes em Eder.
Em abril do ano passado, o agente contou que foi a São Paulo e ficou hospedado na casa da irmã. Durante o período em que esteve na cidade, Daniel o levou para conhecer a noite paulistana. Os dois foram a boates e motéis. Nos encontros, Daniel fazia questão de dizer que possuiam muitas coisas em comum, como gostar do mesmo perfume, da mesma champanhe. Também usavam roupas parecidas.
Segundo Eder, o estudante estava deslumbrado, afinal confessara conhecer muito pouco do mundo, apenas os colégios particulares e a casa do pai. Mas foi na faculdade que tivera uma experiência homossexual, mas nada sério. Por isso, precisava descobrir a outra face do amor.
O relacionamento foi ficando cada vez mais envolvente. Em dezembro passado, Eder foi designado pela Polícia Federal para uma missão em Guarulhos. A convite da irmã Rose voltou a ficar na casa Daniel. No reveillon, a sobrinha Flávia, que namorava com Flávio em Brasília, foi para São Paulo e conheceu Daniel.
O casal iniciou um romance. Eder percebeu e perguntou ao namorado se estava acontecendo algo entre ele e Flávia. O rapaz negou. Mas um belo dia Daniel e Flávia foram flagrados na antesala da sauna, na casa da irmã. De acordo com Eder, o rapaz estava de cueca e a moça de calcinha. A cena deixou o agente da PF irado. No entanto, Daniel contornou a situação, afirmando que apesar dos acontecimentos, nada iria mudar entre os dois.
Indignado pelo fato de Rose e Carlos Alberto tentar aproximar Daniel de Flávia, Eder decidiu chamar a irmã para uma conversa. Ela negou e Eder, magoado, decidiu voltar para Brasília, sendo informado por Daniela que o irmão e Flávia estavam saindo para jantar e demorariam a retornar.
Eder voltou e contou para Flávio que ele estava sendo traído em São Paulo pela namorada. Passado o Ano Novo, Flávia retornou a Brasília. Logo depois, soube que a irmã, o marido dela, Carlos Alberto, e o amado Daniel, chegariam dia 25 a Brasília para a festa de formatura de Janaína, ex-namorada de Daniel e amiga da família.
Eder descobriu que Flávia iria buscar Daniel e resolveu levar o namorado dela para flagrar a traíção. Quando o rapaz a pareceu, Carlos Alberto abraçou o filho e se afastaram para conversar. Revoltado, Eder gritou: "Daniel, quero falar com você, seu moleque, safado, pára ai". Carlos alberto largou o filho, voltou e o chamou o agente de "viado, verme e aleijado", mandando-a embora.
"Nesse momento fiquei cego, alucinado. Não me importo de ser chamado de homossexual, mas aleijado, tenho trauma. Uma vez, passei no concurso da PF para agente federal e quando descobriram o problema de minha perna não fui aceito", contou. Carlos Alberto ainda o empurrou. Ao cair, sacou a arma e disparou, atingindo também, Daniel.
O depoimento, aparentemente montado, causou espanto quando Eder disse que pediu para um amigo da Polícia Federal que o algemasse. O agente respondeu que não tinha algemas. Eder pediu para ele buscar dentro do armário e ofereceu as mãos para ser algemado e preso. Em algumas partes do interrogatório, esqueceu alguns detalhes, mas contou que usava duas armas desde que foi ameaçado de morte por dois ex-agentes, excluídos da PF. A defesa terá três dias úteis para apresentar as alegações preliminares.
Luís Augusto Gomes (Repórter do Jornal de Brasília)

Nenhum comentário: