segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Juventude violenta

JUVENTUDE VIOLENTAArmados e destemidos Pesquisa revela que as chances de os jovens do DF praticarem crimes aumentam em 25,8% quando eles portam armas de fogo Mariana BrancoJuventude perigosa e em risco constante. No último sábado, mais um jovem foi vítima da violência no Distrito Federal: o estudante de Direito Paulo Roberto Rosal Filho, 24, foi assassinado com um tiro na saída de uma festa na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB). O suspeito é Bruno da Silva Faria, 19 anos, que está preso. Caso se confirme que o acusado cometeu mesmo o homicídio, ele entrará para uma triste estatística: a de que o porte de arma de fogo aumenta em 25,8% as chances de um jovem do DF, entre 18 e 24 anos, praticar algum crime. Além disso, 7,5% dos brasilienses nessa faixa etária já andaram armados. Desses, 55,7% já utilizaram a arma.Os dados fazem parte da pesquisa Fatores Determinantes da Violência Interpessoal entre Jovens no DF, da Caixa Seguros. O estudo aponta ainda que 8,4% das pessoas entre 18 e 24 anos nas cidades do Distrito Federal têm acesso, de alguma forma, a armas de fogo. A maior parte declarou que tem acesso junto à vizinhança (55,4%), mas um percentual também alto de jovens afirmou que pode obter facilmente a arma dentro da própria casa (29,3%). Os outros locais citados foram ambiente de trabalho (8,7%) e escola ou faculdade (6,5%)."O fato de ter acesso à arma de fogo leva ao porte e a sua conseqüente utilização", comentou o coordenador da pesquisa, Miguel Fontes. Para ele, não há surpresa no fato de que mais da metade dos jovens entrevistados afirmaram ter acesso a armas de fogo junto à vizinhança."Vizinhança, no mais das vezes, quer dizer grupo de amigos, o mesmo se aplicando à escola e à faculdade. É, na verdade, a forma de acesso mais comum", diz o pesquisador.TendênciaOutro dado importante do levantamento é que, entre os entrevistados, levando-se em conta apenas aqueles que já foram vítimas de algum tipo de violência, o percentual de jovens que já andaram portando armas de fogo quase dobra (14% do total). "Violência gera violência. Uma vez sofrida uma agressão, a tendência a se tornar agressor e adotar uma atitude defensiva é muito maior", afirma Fontes.A radiografia do porte de armas entre os jovens no DF mostra também que existe uma lógica geográfica e social na violência. Samambaia, Planaltina e Ceilândia, cidades onde boa parte da população é de baixa renda, têm os maiores índices de porte de armas entre a população de 18 a 24 anos do DF. Em Samambaia, 12,5% dos jovens já andaram armados. Em Planaltina, são 10,2% e 8% em Ceilândia, segundo a pesquisa.O estudo da Caixa Seguros foi realizado junto a 1.067 jovens do DF, residentes em oito regiões administrativas: Plano Piloto, Lago Norte, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Sobradinho, Sobradinho II e Planaltina. Para o sociólogo Antônio Flávio Testa, especialista em segurança pública, armas de fogo se tornam um instrumento ainda mais perigoso nas mãos de jovens. "Eles estão formando o caráter, descobrindo o mundo. A arma é um instrumento que dá confiança, só que ela tira a vida de pessoas", analisa. Testa afirma que a disputa e vingança entre os grupos de jovens vêm se tornando cada dia mais comuns no DF. "É um círculo vicioso. Quem já foi agredido quer atingir seu inimigo. Muitas vezes, há outros fatores por trás dessas brigas, como ingestão de álcool e drogas, além do tráfico de drogas"Para a presidente da Organização Não-Governamental (ONG) Comitê Nacional das Vítimas da Violência (Convive), Valéria Velasco, o porte de armas deveria ser fiscalizado com rigor. Em 2005, a ONG faz campanha a favor da proibição da venda de armas de fogo durante o referendo popular. "A população não quis o fim da comercialização, mas temos o Estatuto do Desarmamento."
Dor sem fim entre os familiares.
A violência entre os jovens deixa marcas profundas nas famílias. "Não há nada pior que a dor de perder um filho. Isso deixa um vazio que nunca vai ser preenchido", desabafa a professora Fransciana Rodrigues Rosal, 53 anos, a mãe de Paulo Roberto Rosal Filho, 24 anos, o Paulinho, morto no último fim de semana na saída de uma festa na AABB.Ainda muito abalada com a morte do filho, a mãe procura forças para perdoar as pessoas que mataram Paulinho. Ela acredita que, se seu filho estivesse vivo, pediria que ela fosse compreensiva. "O meu consolo foi ter criado um ótimo filho. Tenho dó dos pais dos agressores. Eles devem estar morrendo de desgosto", destaca."Paulinho era uma ótima pessoa. Tão bonito e tão humilde. Ele era o caxias da turma, sempre preocupado com os compromissos acadêmicos, sempre que podia corria para a biblioteca", disse a estudante de Direito e colega de Paulinho, Francisca Clotildes Costa, 24 anos. "Isso nos dá uma mistura de revolta e tristeza. Como uma pessoa tão importante, com um futuro tão brilhante pela frente, pode se assassinado por motivo tão fútil? Paulinho era da paz", diz Francisca Costa.A tia do produtor de eventos Ivan Rodrigo da Costa, o Neneco, 29 anos, Vânia de Freitas, 49 anos, nunca esqueceu da forma brutal com que ele foi morto. O rapaz foi espancado, no ano passado, por um grupo de capoeiristas, em frente a boate Fashion Club, no Setor de Diversões Norte. Morreu com infecção generalizada, nove dias após ter sido agredido. "Quando a casa está vazia, eu choro. Lembro que falta o barulho que só o Neneco sabia fazer. Ele sabia levantar o meu astral", conta Vânia de Freitas.O tio de Neneco, Wilson de Freitas Júnior, 40 anos, também tenta esquecer a dor. "Não temos mais motivos para comemorar as datas festivas. O réveillon não foi o mesmo".
Jornal de Brasílila, 17/01/2007 –CIDADES

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